O que precisas de saber antes de subires à montanha do Pico

Após termos pisado o ponto mais alto de Portugal, várias foram as perguntas que nos colocaram. E são as respostas a estas perguntas, completamente cunhadas pela nossa experiência pessoal, que pretendemos dar neste artigo. Um artigo que tem por objetivo partilhar algumas informações e recomendações para te ajudar a preparar a subida à montanha do Pico.

E mesmo antes de mergulharmos de cabeça nesta subida já tínhamos uma história com a montanha do Pico. Caso tenhas curiosidade por este enredo caricato, lê este artigo.

Nascer do sol no ponto mais alto de Portugal, Montanha do Pico, Açores
Nascer do sol no ponto mais alto de Portugal, Montanha do Pico, Açores

E agora, sem mais demoras, as respostas às dúvidas mais frequentes sobre a subida ao ponto mais alto de Portugal:

Foi difícil/cansativo subir a montanha do Pico?

O ser difícil ou cansativo depende da tua preparação mental e física.

Para mim, Raquel, a principal barreira que tive que ultrapassar foi sem dúvida a mental. Não tive receio do esforço físico (porque estou habituada a praticar desporto e a caminhadas longas e com desníveis). No entanto, tinha muito receio de me magoar (principalmente porque um ano antes tinha-me lesionado e, apesar de fisicamente já estar totalmente pronta, mentalmente ainda estava algo receosa). Esta barreira mental foi ultrapassada antes e durante a subida. Ajudou muito estar acompanhada por uma guia muito competente e por um incrível grupo.

Para além disso, com o avançar da subida, fui-me apercebendo que era capaz e que o percurso não era assim tão difícil como o tinha pintado na minha mente. O Pedro é uma “cabra montanhesa” (calma, não partimos para o insulto, é mesmo no sentido de que ele já nasceu pronto para estas andanças na montanha) portanto já sabes a resposta que ele te dará.

Em termos teóricos, se a subida e a descida são difíceis, sim. É considerado um trilho de dificuldade elevada. 

Em termos práticos, o que isso quer dizer? Quer dizer que não é um passeio no parque. Não há passadiços de madeira nem caminhos planos. É natureza em estado (quase) puro e portanto vão encontrar rocha, gravilha, terra, lama, túneis de lava solidificada… Declives acentuados e partes do percurso em que a probabilidade de “baterem com o rabo no chão” não é negligenciável. No entanto, não há propriamente precipícios e não se põe a questão de caírem por ali abaixo (desde que vão pelo trilho certo e sejam conscientes, claro).

Se é muito cansativo e desgastante? Acreditamos que para muitas pessoas o seja e até mesmo para nós se não estivéssemos já com os pés e as pernas muito calejados e treinadas. Mesmo com toda esta preparação física, não podemos dizer que não foi cansativo. Foi, mas já fizemos trilhos mais desgastantes, inclusive na Madeira, na semana anterior.

O que mais nos custou foi, sem dúvida, a descida. Já são muitas horas a caminhar, o corpo já vai cansado e temos que estar com a atenção redobrada porque é na descida que acontecem a maioria das lesões. Na descida experienciamos também o fenómeno “parece que estamos tão perto mas ainda estamos tão longe” (do ponto final do percurso). No fundo é mais um desafio que a montanha nos oferece.

Portanto, diríamos que ter uma boa preparação física é um ponto fundamental para subirem (e descerem) a montanha sem sofrimento (ou, vá lá, com níveis mínimos de sofrimento).

Acima das nuvens, Montanha do Pico, Açores
Acima das nuvens, Montanha do Pico, Açores

Subiram a montanha do Pico com guia?

Fomos sim, com a Raisa, da Tripix. Para além de muito ter contribuído para ultrapassar o meu medo e de me ter orientado em algumas fases mais técnicas do percurso, foi uma excelente e divertida companhia.

Se recomendamos a ir com guia? Durante a noite, sem dúvida alguma! Consideramos mesmo muito perigoso subir de noite sem guia. Aliás, segundo as informações dadas pela Casa da Montanha, apenas os residentes na Região Autónoma dos Açores podem subir a montanha durante a noite sem um guia certificado. Durante o dia, a menos que tenhas muita experiência em trilhos pela montanha e as previsões da meteorologia sejam de céu limpo e sem chuva, também recomendamos que vás com guia.

Antes de iniciares a subida, tens de passar pela Casa da Montanha para levantar um GPS que te deve acompanhar durante todo o percurso. No final da descida é também obrigatório passar na Casa da Montanha para devolução do GPS, informando também do término do percurso.

A subida à montanha, sem guia, está também sujeita ao pagamento de uma taxa e reserva prévia. Podes saber mais no site oficial da Subida à montanha da ilha do Pico.

A nossa guia, a Raisa
A nossa guia, a Raisa

Subiram de dia ou de noite? Dormiram lá? O que recomendam?

Fizemos a subida noturna. Iniciámos o percurso aproximadamente às 2 horas da manhã. Chegamos ao Piquinho (ponto mais alto de Portugal) antes do nascer do sol (que foi por volta das 6 da manhã) e estivemos lá em cima ainda bastante tempo (aqui não podemos precisar quanto tempo estivemos, o tempo passou a voar). Terminámos a descida, tendo chegado à Casa da Montanha, ponto de partida e de chegada do trilho, ao meio dia. 

Não pernoitamos na cratera mas podem realizar a subida com pernoita também com guia.

Existem três possibilidades de subida com a Tripix:

  • Subida diurna (começa por volta das 8h e termina por volta das 15h);
  • Subida noturna (começa por volta das 2h e termina por volta das 12h);
  • Subida com pernoita (começa por volta das 16h e termina por volta das 12h).

Apesar de só termos realizado uma subida (a noturna) e, portanto, a nossa experiência ser limitada, podemos comentar com base também no que ouvimos da nossa guia e de colegas que realizaram outra modalidade de subida. 

A que recomendamos para uma subida em altura de primavera-verão é a subida noturna. Subimos durante a noite, contemplando o céu mais estrelado que já vimos. Escapámos ao calor do dia que deve tornar a subida mais custosa. Vimos o nascer do sol do Piquinho (que é sem dúvida o ponto alto desta experiência). E, depois, na descida, temos toda a paisagem que o dia nos oferece (semelhante à subida diurna), sobre o Atlântico e as ilhas do arquipélago central dos Açores. A única desvantagem que vemos nesta subida é somente termos que madrugar a sério! Custa mas vale a pena.

Quanto à subida com pernoita, aquilo que percebemos de quem a realizou foi que o peso das mochilas é significativo para uma caminhada deste género. Não se esqueçam que têm que levar a tenda, colchões e toda a comida que consomem ao longo de quase um dia, às costas! Para além disso, dormir na cratera do vulcão não é pêra doce porque, mesmo no verão, é bastante frio. Portanto, caso se arrisquem neste tipo de subida, certifiquem-se que estão mesmo em muito boa forma física. A vantagem deste tipo de subida é que podem também assistir ao pôr-do-sol do Piquinho.

Nascer do sol, visto do Piquinho, Açores
Nascer do sol, visto do Piquinho

Que comida levaram?

Para cada um levamos: uma sandes de queijo; um punhado de frutos secos; um pacote de bolachas tipo Belvita; 2 barras de cereais; 2 peças de fruta; 1 sumo de fruta; 1 garrafa de 0.5L de powerade; 1.5L de água. Tomámos também um bom “pequeno-almoço”, à 1 hora da manhã, antes de sairmos do nosso alojamento.

Tenham em atenção que isto foi o que levamos para a subida noturna, na primavera. Levem o que vos for aconselhado pelo vosso guia e aquilo que já estejam habituados a comer.

Pormenor da paisagem da ilha do Pico, visto do topo da montanha
Pormenor da paisagem da ilha do Pico, visto do topo da montanha

Que roupa levaram?

Gorro, luvas “de corrida”, t-shirt, casaco polar, corta-vento impermeável, leggings/calças de fato de treino com elasticidade, meias anti-bolhas e sapatilhas de montanha.

No que concerne ao calçado, os guias habitualmente recomendam botas de montanha, também permitindo sapatilhas, desde que sejam de montanha. Nós levamos sapatilhas de montanha porque era o calçado com que estávamos habituados a caminhar e isso é muito importante. Levem calçado que já usaram várias vezes e com o qual se sintam mesmo confortáveis (e, claro, de montanha)!

Novamente, esta roupa está adequada à subida noturna, na primavera/verão. Dependendo das temperaturas, pode ser adequado levarem mais uma peça de roupa mais quente (tivemos algum frio no Piquinho com a roupa que levamos). E antes que pensem “Ah, é Verão, não preciso de luvas”… Amigos, para a subida noturna precisam mesmo!

Ilha do Pico, vista da montanha, Açores
Ilha do Pico, vista da montanha

É frio lá em cima?

Durante a subida não tivemos frio. No Piquinho, ai que frio! Deveriam estar perto de 5 ºC lá em cima. Valeram-nos as fumarolas, para nos aquecermos, que nos souberam pela vida! 

Outra pergunta que nos fazem é se há neve ou gelo no topo. Quando nós fomos (em junho) não havia. Mas basta as temperaturas serem um pouco inferiores para as condições estarem reunidas.

Fumarolas na cratera, em baixo, à direita
Fumarolas na cratera, em baixo, à direita

Quantas horas demora o percurso?

A experiência da subida (e descida) noturna dura em média 10h. São cerca de 3-4h para subir e para descer.

Vacas a aproximadamente 1200 metros de altitude, perto da Casa da Montanha
Vacas a aproximadamente 1200 metros de altitude, perto da Casa da Montanha

Para mais informações visitem o site oficial da Subida à montanha da ilha do Pico.

Se estão com dúvidas se subir à montanha do Pico vale mesmo a pena, recomendamo-vos que leiam o nosso primeiro artigo sobre esta experiência.

Se gostaram deste artigo ou têm mais alguma questão a colocar sobre a subida à montanha do Pico, comentem em baixo na caixa de comentários.

Um dia vemo-nos por aí!

R&P

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2 thoughts on “O que precisas de saber antes de subires à montanha do Pico

  1. Ola gostaria de saber como fizeram com as necessidades fisiológicas nomeadamente o xixi

    1. Olá, fizemos como fazemos em todos os trilhos em que não há casas de banho (que são a esmagadora maioria dos trilhos). Temos mesmo de explicar? 😀

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