Caminho de Santiago – perguntas e respostas

Várias são as perguntas que nos chegam de amigos e seguidores que querem fazer o Caminho de Santiago. O interesse no Caminho é crescente e temos  dado resposta a cada uma das perguntas que nos chegam. Neste artigo fazemos uma compilação das questões mais frequentes e das nossas respostas. Deves ter em atenção que algumas das respostas expressam puramente a nossa opinião pessoal e devem ser entendidas como tal.

 

Qual a melhor altura do ano para fazer o Caminho Português?

Começamos por aquelas que são, na nossa opinião, as épocas menos recomendáveis para o Caminho: pico de Inverno e pico de Verão. O primeiro por ser uma época fria e com possibilidade superior de chuva intensa e o segundo pelo elevado calor e maior procura.

Na verdade, nas restantes alturas estaremos sempre sujeitos às condições meteorológicas. Na nossa jornada, no mês de junho, tivemos nove dias de tempo fantástico para caminhar (céu limpo e temperaturas agradáveis para caminhar de calções e t-shirt) e um dia que coincidiu com a “depressão Miguel” e que foi uma molha avassaladora. No entanto, as probabilidades jogam mais a nosso favor nestas alturas e uma molha ou outra, em retrospectiva, enriquece a experiência e dá-nos uma boa história para contar.

Tendo de apontar meses, colocaríamos abril, maio, junho, setembro e outubro como as nossas recomendações. O clima tende a ser agradável e quer a Primavera, quer o início do Outono, são garantia de bonitas paisagens ao longo do Caminho.

 

Em quantos dias devo fazer o Caminho Português Central?

Partindo do Porto (a cerca de 250 km de distância de Santiago de Compostela), estão definidas habitualmente 11 etapas, ou seja, 11 dias para percorrer o caminho. Mas o caminho pode e deve ser adaptado em função do tempo que tenhas e sobretudo da tua condição física. Convém relembrar que antes de fazeres o caminho deves consultar o teu médico para perceberes se estás de boa saúde para o fazer.

No nosso caso, fizemos o caminho em 10 dias. Alteramos uma das etapas “habituais” e juntamos duas etapas numa só. Contudo, se duvidares da tua capacidade para caminhar mais de 30km por dia, não juntes etapas! Se decidires juntá-las, é muito importante que te informes da dificuldade de cada etapa. Por exemplo, a etapa Ponte de Lima – Rubiães, apesar de ter apenas 19 km, é feita maioritariamente pela Serra da Labruja acima, com uma inclinação considerável. Portanto pensa bem antes de juntares esta etapa a outra.

Se por outro lado, pretenderes prolongar o caminho por mais de 11 dias, uma das recomendações que fazemos é que dividas a etapa que liga Barcelos a Ponte de Lima, que para nós foi uma das etapas mais longas e cansativas.

Deves ter em atenção que se quiseres alterar etapas, deves sempre verificar se existem albergues ou outros alojamentos no teu destino final para aquele dia. Isto porque vários dos locais por onde o caminho passa são florestais ou rurais, onde não existem alojamentos onde ficar.

Dito isto, e porque nos facilitou a planificação do Caminho, deixamos-te aqui a descrição das etapas habitualmente percorridas em 11 dias do Porto a Santiago e as etapas que nós realizamos para percorrer o mesmo caminho, em 10 dias. Em cada etapa está explícito o ponto de partida, o de chegada e o número de quilómetros aproximadamente percorridos.

Etapas “habituais” do Porto a Santiago de Compostela em 11 dias:

  1. Porto a Vairão (23-25 km, duas opções de trajeto)
  2. Vairão a Barcelos (28 km)
  3. Barcelos a Ponte de Lima (35 km)
  4. Ponte de Lima a Rubiães (19 km)
  5. Rubiães a Valença do Minho (18 km)
  6. Valença do minho a O Porrino (23 km)
  7. O Porrino a Redondela (16 km)
  8. Redondela a Pontevedra (23 km)
  9. Pontevedra a Caldas de Reis (23 km)
  10. Caldas de Reis a Padrón (19 km)
  11. Padrón a Santiago de Compostela (25 km)

As “nossas” etapas do Porto a Santiago de Compostela em 10 dias:

  1. Porto a Vilarinho (27 km, opção de trajeto mais longa)
  2. Vilarinho a Barcelos (26 km)
  3. Barcelos a Ponte de Lima (35 km)
  4. Ponte de Lima a Rubiães (19 km)
  5. Rubiães a Tui (20 km)
  6. Tui a Redondela (37 km)
  7. Redondela a Pontevedra (23 km)
  8. Pontevedra a Caldas de Reis (23 km)
  9. Caldas de Reis a Pontecesures (18 km)
  10. Pontecesures a Santiago de Compostela (26 km)

 

Onde pernoitar? Como funcionam os albergues?

Podes optar por passar a noite num albergue de peregrinos (público) ou em alojamentos privados (hotel/hostel/albergues privados, etc).

Os albergues são dormitórios destinados aos peregrinos. Normalmente são compostos por camaratas, balneários e alguns com cozinha, onde podes preparar as tuas refeições. O acesso aos albergues (públicos) é feito consoante a apresentação da credencial do peregrino devidamente carimbada e é limitado aos lugares disponíveis. Quem faz o caminho a pé tem prioridade na entrada até às 18h em relação a quem faz o caminho de bicicleta.

Deves ter em atenção que não podes reservar um lugar nos albergues públicos. E foi esse um dos motivos pelo qual nós optamos por ficar em alojamentos privados (em albergues de peregrinos privados ou hósteis). Como fizemos o Caminho em junho e já tínhamos informação de que esse é um dos meses mais concorridos para fazer o Caminho, tornando-se difícil, por vezes, ter lugar nos albergues públicos, optamos por reservar os alojamentos de antemão. Uma desvantagem deste tipo de alojamentos é que se perde um pouco do convívio com os outros peregrinos. Ainda assim, em alguns dos albergues privados em que ficamos, acabamos por conviver com muitos peregrinos e mesmo com os donos dos alojamentos. Destacamos a Casa da Laura, em Vilarinho, e o Ninho, em Rubiães, com as simpáticas Laura e Marlene, respetivamente, que nos receberam como se estivéssemos, literalmente, em nossa casa.

 

O caminho está bem sinalizado?

Como até hoje percorremos apenas o Caminho Português Central, partindo do Porto, e a variante que passa em Braga, só podemos afirmar como é a sinalização nos pontos por onde passam estes caminhos. 

A nossa opinião é que o Caminho a partir do Porto está muito bem marcado ao longo de todo o percurso, sendo necessário apenas seguir as setas amarelas com três excepções. Essas três exceções são, inesperadamente, no centro do Porto, no centro de Braga e nos derradeiros quilómetros em Santiago.

No Porto, partindo da Sé, a confusão de setas amarelas do Caminho Central e do da Costa é grande. Nós seguimos as setas da Sé até à baixa e na baixa ignoramos as setas e seguimos por um caminho alternativo (sugerido pelo livro de bolso que levávamos).

No centro de Braga, foi também complicado seguir as setas e acabamos por andar às voltas na cidade, literalmente, até percebermos onde estava a seta que nos escapou (colocada habilmente no rodapé do passeio do outro lado da rua).

Finalmente, em Santiago, quando chegamos à cidade, perdemos completamente as setas! Achamos nós que não foi do entusiasmo da chegada (nem da fome) mas sim que o caminho ou está mal sinalizado ou está propositadamente sem sinalização. No entanto, a Catedral começa a ser visível entre os edifícios e fornece toda a orientação necessária.

Um pormenor interessante: as setas amarelas indicam o caminho para Santiago de Compostela; as setas azuis o caminho para Fátima.

 

Caminho “original” ou caminho “alternativo”?

Em Espanha, ao longo do caminho, passamos por vários cruzamentos em que encontramos setas com direções opostas. Normalmente debaixo de uma das setas estava indicado o número de quilómetros que faltavam até à Catedral de Santiago e a outra seta estava sinalizada como “C. Complementario”. Nós, como já tínhamos lido sobre isto antes, optamos sempre pelos caminhos complementares e adorámos! Apesar de normalmente serem mais extensos (não sabemos ao certo quanto mas deverá rondar à volta de 1-2km a mais, em média), são percursos que nos levam pelo meio da natureza e foi onde contemplamos algumas das melhores paisagens do Caminho. De facto, o que outros peregrinos que optaram pelas vias “originais” nos foram transmitindo, foi que estes caminhos mais curtos são normalmente mais industrializados e/ou ao lado da estrada e, por norma, são os troços mais monótonos e desagradáveis de percorrer.

Outra situação com a qual nos cruzamos também algumas vezes foi com a indicação de caminhos mais seguros (através de placas sinalizadoras nas estradas), pelos quais também optamos. Em geral, isto acontece nas estradas com grande afluxo de veículos e sem passeios, sendo recomendado que se siga por outra estrada, mais segura para os peregrinos.

 

Utilizaram algum “guia” do Caminho?

Preparamos a nossa caminhada a Santiago pesquisando em vários blogs de viagem e assim fizemos o nosso próprio “guia”, que nos permitiu ter uma visão geral de por onde deveríamos passar e ao que deveríamos estar atentos. (A seu tempo iremos publicá-lo).

Para a caminhada levamos também o livro de bolso intitulado “Caminho Português de Santiago de Compostela” do autor Sérgio Fonseca, que nos ajudou em algumas situações. Por norma, líamos o capítulo da etapa que íamos realizar na noite anterior e, pontualmente, consultava-mo-lo durante o caminho para nos ajudar a perceber por onde devíamos seguir.

Na nossa primeira noite durante o caminho pernoitamos na Casa da Laura, um alojamento privado em Vilarinho, que recomendamos. Nesse local, convivemos com simpáticos peregrinos alemães e franceses, sendo que todos usavam a aplicação Buen Camino para se guiarem na caminhada. E a partir desse momento nós passamos também a usá-la. Deu-nos bastante jeito em alguns momentos!

A nossa dica é que te deixes levar pelas setas e que desfrutes do caminho sem pensar muito. No entanto, convém teres algum auxiliar contigo para não fazeres parte das estatísticas da Laura, dona da Casa da Laura, que nos contou que quem mais se perde são mesmo os peregrinos portugueses!

 

Credencial do Peregrino – para que serve?

A Credencial do Peregrino deve ser carimbada pelo menos duas vezes por dia, sendo possível carimbá-la em vários sítios, desde catedrais e albergues a cafés e postos de turismo. Dá direito à obtenção da Compostela no fim do Caminho e é também requisito mínimo obrigatório para ter acesso aos albergues (estando estes sujeitos à disponibilidade de lugares). Pode ser comprada nas várias Associações dos Caminhos de Santiago e Confrarias do Apóstolo Santiago, nas principais Catedrais do Caminho e em muitos dos Albergues de Peregrinos ao longo do Caminho.

 

Compostela – o que é e como obter?

A Compostela é o documento que comprova que o peregrino percorreu o Caminho de Santiago, tendo chegado à catedral da cidade. É emitida na Oficina del Peregrino, perto da Catedral de Santiago. Para a obter é necessário apresentar a credencial do peregrino devidamente carimbada como descrevemos acima e ter percorrido no mínimo 100 km do caminho a pé ou a cavalo ou 200 km de bicicleta.

 

Qual o significado da vieira?

A vieira é o símbolo que identifica os peregrinos que estão a percorrer o Caminho de Santiago. Tem um importante significado porque, tal como os seus sulcos confluem num só ponto, também os Caminhos partem de vários locais e confluem na Catedral de Santiago de Compostela. 

Antigamente, a vieira era símbolo de que os peregrinos tinham conseguido completar o seu caminho e continuado até Finisterra, considerado em tempos “o fim do mundo”. No entanto, como muitos peregrinos percorriam o caminho doentes e já não conseguiam chegar a Finisterra, a sua venda foi autorizada em Santiago e, posteriormente, alargada ao restante Caminho.

 

O que é um ano Jacobeu?

Sempre que o dia 25 de julho (dia de Santiago) calha a um domingo, esse ano é chamado de ano Jacobeu. O último foi em 2010 e o próximo será em 2021.

 

Porque raio foram gastar férias para fazer o Caminho de Santiago?

Talvez uma das perguntas mais frequentes que os nossos amigos (mais preguiçosos!) nos fizeram.

O Caminho de Santiago para nós representa espiritualidade, natureza e desporto. Íamos com expectativas elevadas para a nossa caminhada, que foram cumpridas. Foram dias de muitos quilómetros caminhados pela natureza, de muitas conversas com outros peregrinos mas também de muito silêncio e reflexão. 

Verdadeiramente, os dias da caminhada a Santiago para nós foram férias! Aproveitamos para descansar, para comer tapas e beber umas cervejas em locais típicos, para visitar cada local interessante por onde passamos e foram 10 dias que recordamos com saudade.

 

Qual a história da peregrinação a Santiago?

E porque achámos que não se deve partir para o Caminho sem perceber a sua história, sugerimos que visites o site da Oficina do Peregrino e leias sobre o mesmo. Deixamos o link aqui.

Sugerimos também que vejam o filme “The Way”, que retrata a jornada de um peregrino pelo Caminho de Santiago francês desde Saint-Jean-Pied-de-Port.

Se tiveres alguma dúvida adicional, não hesites em deixar a tua pergunta na caixa de comentários em baixo.

E se ainda não leste, dá uma olhada ao nosso artigo com os mapas dos diferentes Caminhos e com algumas estatísticas interessantes.

Um dia vemo-nos por aí!

R&P

6 thoughts on “Caminho de Santiago – perguntas e respostas

  1. Adorei ler este vosso artigo. Fiz o Caminho no inicio de agosto com mais 2 amigas, com início em Valença. Muito do que li aqui, vivenciei. Adorei e tenho vontade de repetir.

    1. Oh que bom, ainda bem que gostou do artigo. Nós também adoramos e queremos repetir. Um dia vamos… Voltar ao Caminho de Santiago 😀

  2. Bom dia!!! Pretendo fazer o caminho no próximo ano se Deus assim me permitir e achei muito interessante e importantes a descrição desse artigo. Só ando indecisa por não encontrar alguém conhecido para fazer o caminho comigo, mesmo sabendo que durante o caminho nunca estaremos sozinhos.

    1. É isso mesmo, durante o Caminho nunca estamos sozinhos. E mesmo por isso pensamos que é uma excelente viagem para se fazer sozinho 🙂 Bom caminho!

  3. Sozinho ou acompanhado, o importante é preparar, confiar e não desperdiçar energias físicas nem espirituais. Gostei muito deste artigo! Muito obrigada. Recordei, solidifiquei aprendizagens e aprendi!

    1. Muito obrigado, é muito importante para nós ter este feedback dos nossos artigos.
      Boas caminhadas!

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