Os Caminhos de Santiago: números e mapas

Por motivos religiosos, espirituais ou culturais, pelo desafio ou pela experiência, milhares de peregrinos percorrem anualmente os Caminhos de Santiago. Começam a caminhada em Espanha, Portugal, França ou ainda em países mais distantes. Vêm dos quatro cantos do mundo. Uns estão bem preparados para a jornada, outros nem por isso. As dores e o cansaço ficam no entanto esquecidas por entre as pessoas que vão conhecendo e as experiências que vivem. Partilham o objetivo de alcançar a Catedral de Santiago de Compostela e a barreira linguística desaparece ao som de um global “Buen Camino!”.

Este é o nosso primeiro artigo sobre o Caminho de Santiago, que faz parte de uma série de textos que vamos publicar. Uns serão mais informativos, como este em que pretendemos explicar-te que Caminhos de Santiago existem; outros serão mais pessoais, relatando a nossa experiência na caminhada. Vamos ainda dar-te dicas e responder a algumas perguntas que nos têm feito sobre esta jornada.

O Caminho de Santiago em números

O número de peregrinos nos Caminhos de Santiago tem vindo a aumentar nos últimos anos, de acordo com as estatísticas da Oficina do Peregrino em Santiago de Compostela. No ano de 2019, o número de peregrinos esteve muito próximo dos 350 mil, com igual divisão entre homens e mulheres.

A maioria dos peregrinos fazem o percurso a pé (aproximadamente 94%). Dos restantes, a maior parte segue de bicicleta, no entanto para 2019 (fun fact) existe o registo da chegada de cerca de 400 pessoas a Santiago de cavalo, 250 de barco à vela e 80 em cadeira de rodas.

O Caminho é percorrido por pessoas de todas as idades. E nós experienciamos essa diversidade, ora vendo grandes grupos de jovens, ora ajudando um senhor alemão com os seus sessenta e muitos anos a carregar a sua bicicleta e pertences serra da Labruja acima. Os dados indicam que 65 mil pessoas com idade superior a 60 anos percorreram os Caminhos em 2019 (uau!).

Portugal é o 5º país com maior número de peregrinos, após Espanha, Itália, Alemanha e Estados Unidos (por ordem decrescente). A tabela com a nacionalidade dos peregrinos apresenta os valores que mais nos surpreendem, pois evidencia que o Caminho não se resume a uma peregrinação religiosa. Pergunta para queijinho: quantas pessoas do Líbano percorreram o Caminho em 2019?

Os últimos números que apresentamos dizem respeito aos Caminhos que nos levam a Santiago. Existem vários Caminhos marcados, como podes ver na seguinte imagem, no entanto uns são mais procurados que outros. Em 2019, o Caminho Francês foi o mais percorrido (55% dos peregrinos), seguido pelo Caminho Português Central (21% dos peregrinos) e o Caminho Português da Costa (6% dos peregrinos).

Os Caminhos de Santiago

Caminho Francês

O mais conhecido e percorrido, com cerca de 800 km entre Saint-Jean-Pied-de-Port e a Catedral de Santiago. Eternizado no filme “The way”, com o Martin Sheen no papel principal, e que te aconselhamos muito a ver (ficamos à espera da tua crítica aqui na caixa de comentários). São precisos em média 30 dias para percorrer os 800 km deste Caminho, no entanto a maior parte dos peregrinos que não dispõe de tanto tempo começa este caminho em Sarria, a 120 km de Santiago de Compostela (entre 5 a 6 dias de caminho).

Caminho Português

O Caminho Português conta com cada vez mais peregrinos a percorrê-lo, tendo sido alvo de intervenções recentemente (pelo menos a Norte do país) de modo a melhorar a sinalização e a segurança dos peregrinos. Como o nome indica, tem origem em Portugal. Contudo, são várias as rotas do caminho português que podem ser percorridas e vários os pontos de partida. A maior parte dos peregrinos começa do Porto, Tuí ou Valença, no entanto qualquer ponto do Caminho é válido para se iniciar, seja Lisboa, Faro ou Guarda, partindo da Sé ou da Câmara (de forma a teres o carimbo da cidade) ou da porta de tua casa (no caso do Caminho por lá passar). No entanto, os caminhos estão melhor sinalizados a norte do Porto e o número de albergues e condições para receber os peregrinos são também melhores a partir daqui, segundo a nossa pesquisa.

Caminho Português Central

Efetivamente, o caminho historicamente mais importante, de onde todos os caminhos portugueses derivam, é o Caminho Português Central. E foi esse o caminho que optamos por fazer desde o Porto, em junho de 2019, e do qual vos falaremos em detalhe nos próximos artigos.

Caminho da Costa e a variante de Braga

Para além do Caminho Português Central, existem outras rotas que podem ser percorridas em Portugal. Destas destacamos duas que passam pelo Porto: o Caminho Português da Costa, que passa por várias localidades costeiras do Norte do país (Póvoa do Varzim, Viana do Castelo, Caminha) e o Caminho de Braga. O Caminho de Braga une o Porto a Ponte de Lima por uma rota diferente da do caminho Português Central. Do Porto o caminho segue pela Trofa e Famalicão até Braga e daqui segue para Ponte de Lima, onde se une ao Caminho Central (que atravessa Barcelos). Nós fizemos parte deste caminho, como “treino” para a nossa jornada de 10 dias pelo Caminho Central, e fomos desde a Trofa até Braga e de Braga a Ponte de Lima. Foram etapas longas e desgastantes mas em caminhos sobretudo rurais e florestais bem tranquilos e agradáveis de percorrer.

Outros Caminhos

Existem ainda muitos outros caminhos de Santiago: o Caminho Sanabrés, a Via de Prata, o Caminho Inglês, o Caminho de Inverno, o Caminho de Finisterra e Muxia (que, ao contrário dos outros, em vez de terminar em Santiago, tipicamente parte em Santiago e termina na costa espanhola), o Caminho Primitivo, o Caminho do Norte, entre outros.

Esperamos com este texto ter-te entusiasmado e ajudado a escolher qual o teu Caminho!

* Os mapas que encontras ao longo deste artigo foram retirados da nossa Credencial do Peregrino.

Um dia vemo-nos por aí!

R&P

8 thoughts on “Os Caminhos de Santiago: números e mapas

  1. Parabéns, muito esclarecedor e bem “didático”, para quem está pensando e criando coragem para fazer essa aventura pessoal, religiosa ou qualquer que seja o motivo. Obrigado pelas explanação e pelas figuras.

    1. Obrigado nós por este bom feedback, Walter.
      Vamos fazer o nosso melhor para que os nossos próximos posts sobre o Caminho também o sejam.
      Se tiver alguma curiosidade ou pergunta que gostasse que escrevessemos sobre, diga por favor!

    1. Olá Manuel, obrigado pelo seu comentário.
      Já caminhamos em partes do trilho da Geira em algumas caminhadas que fizemos pelo Gerês, e não sabiamos que havia um Caminho da Geira para Santiago.
      Caminho este que passa em locais fantásticos que nós conhecemos bem: Terras de Bouro, Portela do Homem, Lóbios…
      Vamos fazer a atualização numa próxima revisão deste artigo, muito obrigado pela nota 🙂

    1. Muito obrigado Manuel. Temos mais artigos sobre os Caminhos de Santiago, especificamente sobre o Caminho Português Central, caso esteja interessado. Bons caminhos 🙂

  2. Parabéns pela capacidade de disponibilizar a experiência de forma tão clara e interessante.
    Comecei a fazer os Caminhos de Santiago há pouco mais de dez anos. Comecei pelo Caminho Central Português e depois deambulei pelos outros caminhos portugueses… Fiz o da Costa, o da Geira Romana e o do Interior, cada um deles uma ou duas vezes.
    Este ano decidi voltar a fazer o Caminho Central e acho que o percurso foi “mexido”… Por um lado fugiu das estradas nacionais, o que é bom por motivos de segurança e de interesse do percurso. Mas, também fugiu dos caminhos de terra e dos “single tracks”. Passei a maior parte tempo em caminhos secundários de alcatrão e paralelo e não passei por vários caminhos naturais de que lembro perfeitamente ter passado nas duas primeiras aventuras. Esta situação é principalmente notória entre a Maia e Rates, o que torna este caminho muito menos bonito, desafiante e perde-se o contacto com a natureza!
    Agora a pergunta… Sabem porque é que isto aconteceu? Interesses comerciais?

    1. Olá Henrique,
      Muito obrigado pelo teu comentário. Ficamos muito felizes que tenhas gostado de ler os nossos artigos. Artigos sobre um tema que tanto nos apaixona: os Caminhos de Santiago!
      Começamos a viver os Caminhos em 2019 e também achámos isso que disseste: que o início do Caminho Português Central partindo do Porto é “demasiado urbano”. Não sabemos porque tal aconteceu honestamente mas pode ter sido por interesses comerciais como dizes. Os Caminhos atraem imensos turistas/peregrinos. Se, por um lado, isso é ótimo porque ajuda a divulgar regiões que de outra forma não teriam tantas visitas e fomentam a economia desses locais. Por outro, muitas vezes, leva a que se perca a verdadeira essência dos Caminhos: os lugares tornam-se mais turísticos, menos recatados e autênticos. Mesmo assim, continuamos a adorar os Caminhos e atualmente a procurar Caminhos menos percorridos (de forma a ter, lá está, uma experiência mais autêntica).
      Cumprimentos,
      Um dia vamos

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