Sevilha é uma cidade autêntica e de tradições fortes, onde os edifícios antigos se fundem com os hábitos modernos, criando um ambiente arrebatador para quem a visita e para quem lá habita.
Em setembro de 2017 fizemos uma roadtrip pela costa de Portugal e Sul de Espanha. Começamos a viagem na magnífica Serra da Arrábida; fizemos a travessia para Tróia/Comporta; repusemos vitamina D na Costa Vicentina; nadamos nas águas (mais) quentes de Lagos; apaixonamo-nos por Sevilha; convivemos com raposas no Parque Ardales (e percorremos o Caminito del Rey); bebemos Moscatel em Málaga e terminamos a nossa viagem em Elvas, com Badajoz à vista.
Para saberem mais sobre esta nossa experiência, fiquem atentos aos próximos posts do blogue. Hoje falar-vos-emos da capital da Andaluzia!
SEVILHA PELOS NOSSOS OLHOS
Sempre que visitamos Espanha sentimo-nos em casa.
Em Sevilha sentimo-nos em casa e mais, sentimos e gozamos do espírito espanhol de aproveitar a vida! Vivemos a alegria dos sevilhanos em cada rua que percorremos, em cada sorriso que retribuímos e em cada tapa que provamos.
Em Sevilha as ruas enchem-se não só de turistas mas também de sevilhanos. As pessoas vivem e vibram com a sua própria cidade. Têm por hábito tapear e beber uma cervecita numa esplanada depois do trabalho, aproveitando o fantástico sol com que a natureza os presenteia. Passeiam de mãos dadas com os seus companheiros pelas margens do Guadalquivir. Vão buscar os seus netos aos colégios, ouvindo-se o frenesim de crianças a brincar nas ruas pedonais de Triana. Ouvem flamenco como se fosse a primeira vez. E muitas dançam-no como se ninguém estivesse a ver.
Gostamos de cidades assim, que se percorrem a pé e com o coração.
Para cada viagem que fazemos procuramos criar um plano minimamente optimizado para que consigamos aproveitar ao máximo o que cada local tem para nos oferecer. Nunca é vinculativo, sendo que muitas vezes deixamo-nos levar pelo momento e permitimos que a cidade nos guie. Por este motivo não apresentamos um diário detalhado da nossa passagem por Sevilha mas sim os principais destaques de cada um dos dias da nossa estadia na cidade.
3 dias na cidade do flamenco
Dia 1
O Parque Maria Luísa é o pulmão verde da cidade e foi o ponto de partida desta nossa visita a Sevilha. É um dos possíveis refúgios para nos resguardarmos do sol abrasador que ilumina a cidade no Verão (aproveitando a deixa, Sevilha é uma boa forma de prolongar o Verão, já que em Setembro, altura em que visitamos e na qual, por norma, as temperaturas começam a baixar em Portugal, em Sevilha chegam com grande frequência aos 40ºC).
É no Parque Maria Luísa que encontramos duas praças que foram construídas para a Exposição Ibero-Americana de 1929: a Praça da América, onde se situam o Museu Arqueológico, o Museu de Artes e Tradições e o Pavilhão Real (edifícios que embelezam ainda mais a caminhada pelo parque) e a Praça de Espanha, um dos mais conhecidos postais da cidade. Toda a praça é monumental e o edifício, atualmente utilizado pelo governo espanhol, é uma obra de arte.
A algumas dezenas de metros, nas margens do Guadalquivir, fica a Torre del Oro, torre militar construída no século XIII para proteger a cidade. O nome, esse veio mais tarde e está associado ao facto de vermos tantos e tão belos edifícios nesta cidade. Sevilha foi, durante a época dos descobrimentos, o porto por onde entravam no reino Espanhol os bens recolhidos das Américas, entre os quais, obviamente, constava o ouro. E sim, estão a pensar bem, taxas alfandegárias… Segundo relatos de locais, estas podiam chegar a valores tão elevados quanto 50% do valor da mercadoria! Someone back then knew how to make business.
O Metropol Parasol (também conhecido por Las Setas de Sevilla, ou seja, “Os Cogumelos de Sevilha”) é a maior estrutura de madeira do mundo, finalizada em 2011. Gerou muita polémica entre os Sevilhanos pelo facto de ter um estilo out of the box (sim, acabamos de inventar um novo estilo arquitetónico) completamente diferente dos edifícios antigos que o rodeiam. Do terraço dos pisos superiores têm-se uma das melhores vistas sobre a cidade. Aconselhamos a irem no final da tarde para verem o magnífico pôr-do-sol andaluz. A caminho do Metropol, não deixem de visitar a Plaza Nueva, local de convívio dos Sevilhanos, praça onde se situa a Câmara Municipal (Ayuntamiento) e ponto de partida das principais ruas comerciais da cidade, a Avenida da Constituição e Avenida Tetuán.
Depois de jantarmos umas tapas na lindíssima Calle San Fernando, decidimos fazer uma free walking tour por entre as ruas do Bairro de Santa Cruz, o segundo maior bairro judeu (juderia) de Espanha. Situado entre a Catedral e o Real Alcázar, este bairro é um autêntico labirinto de ruas antigas e estreitas, propositadamente construído dessa forma para que as casas estejam mais frescas nas alturas de maior calor. É o bairro mais pitoresco da cidade, passagem obrigatória para quem visita Sevilha. É também um ótimo sítio para assistir a um show de flamenco.
Dia 2
A segunda free walking tour que fizemos, a Tour Sevilla Monumental, levou-nos por vários monumentos da cidade. A Puerta Jerez é uma bonita praça que deve o seu nome à antiga Porta de Jerez, um dos acessos das muralhas de Sevilha à cidade. Nas redondezas fica o Palácio de San Telmo, sede da Presidência da Junta de Andaluzia. O Hotel Alfonso XIII é um hotel histórico e, por ser património da cidade de Sevilha, são permitidas visitas ao seu imponente pátio interno. Está localizado na Calle San Fernando, junto à reitoria da Universidade de Sevilha, que outrora foi a Real Fábrica de Tabaco de Sevilha. Esta fábrica foi a sede da primeira fábrica de tabaco da Europa e o edifício industrial mais importante de Espanha no século XVIII.
O Arquivo das Índias é um arquivo histórico espanhol que contém documentação referente às colónias espanholas e aos descobrimentos. Quem visita o Arquivo das Índias e fica no seu interior mais do que vinte minutos ganha automaticamente um certificado a atestar o quão aborrecida é a sua vida (sorry not sorry).
O Real Alcázar de Sevilha, o mais antigo palácio real em funcionamento na Europa, a.k.a. Water Gardens of Dorne, é paragem imperdível tanto para fãs de Game of Thrones como para quem nunca ouviu falar da família Martell. Rodeados por gigantescos muros, um conjunto de palácios de diferentes épocas, com predomínio de estilo árabe, fazem-se acompanhar por uma extensão infindável de jardins com uma grande diversidade de laranjeiras, palmeiras, flores exóticas, fontes e terraços onde se respira frescura e serenidade.
Dia 3
O bairro de Triana é um bairro típico sevilhano, com uma identidade própria e que oferece a quem o visita uma experiência mais autêntica da cidade. Está somente à distância do cruzamento da Ponte de Isabel II sobre o Guadalquivir. É o local ideal para se passear, de manhã, pelas largas ruas pedonais e para relaxar, a meio da tarde, longe da confusão do centro histórico, enquanto se devoram uns churros com chocolate. Definitivamente merece a visita, nem que seja para tirar aquela foto do rio Guadalquivir com o centro histórico como pano de fundo.
O mercado de Triana é uma mistura entre o novo e o antigo. Tem várias lojas tradicionais que vendem fruta, verduras, carne, entre outros, mas tem também bares de tapas e sítios onde se podem fazer workshops de comida sevilhana. Na sua cave existem restos do Castelo de São Jorge. Perto do mercado encontramos o Beco da Inquisição (Callejón de la Inquisición), que nos relembra um período menos feliz da história desta alegre cidade.
Já do outro lado do rio, escondida entre os edifícios da Avenida da Constituição e em frente à porta da capela da Catedral de Sevilha, a Praça do Cabildo passa despercebida à maioria dos turistas. Em formato semicircular, assemelha-se a um pátio interno e as pinturas na fachada dos edifícios são verdadeiras obras de arte.
Do cimo dos 104 metros de altura da torre sineira da Catedral de Sevilha, a Torre Giralda, tem-se uma vista de 360º de toda a cidade (a melhor!). A imponente catedral é a maior de Espanha e a terceira maior do mundo. Merece completamente a visita. O pátio da Catedral está repleto de laranjeiras com laranjas amargas. Reza a lenda que é com aquelas laranjas que é feita a compota (conhecida pelos ingleses por marmalade) da Rainha Isabel II do Reino Unido.
Uma curiosidade sobre marmelada. Sabiam que a palavra marmelada é dita de forma muito semelhante na maioria das línguas? Ora vejam, marmelada em português; marmalade em inglês; mermelada em espanhol; marmelade em francês e alemão; marmolada em polaco; marmelat em turco… No entanto, enquanto os portugueses atribuem a palavra marmelada à compota feita com o marmelo, as pessoas de outras nacionalidades atribuem-na à compota de qualquer fruto. Agora a parte mais interessante: a palavra marmelada surgiu com os marinheiros franceses e deriva de mar (em francês, la mer) e doença (em francês, la maladie). Marmelada (mar + maladie) era, para eles, o remédio para a doença do mar, o enjoo.
EM SEVILHA SÊ SEVILHANO!
Não se fiquem pela paelha. Nós nem provamos! Este prato não é típico de Sevilha mas sim de Valência e existem tantas outras coisas boas para experimentar. Querem a nossa opinião: comam tapas, muitas tapas! Especialmente:
- soldaditos de pavía (bacalhau frito com pimento vermelho)
- chipirones a la plancha (lulas grelhadas)
- rabo de toro (rabo de boi)
- gazpacho andaluz (sopa de tomate)
- bacalao con tomate (bacalhau com molho de tomate)
- huevos a la flamenca (ovo frito com legumes e molho)
- pincho moruno (espetada de carne de porco e frango temperada com paprika)
- caracoles (caracóis)
Bebam uma Cruzcampo bem gelada para ajudar a ultrapassar as horas de calor! É uma marca de cerveja criada em Sevilha em 1904 e é impossível não reparar na publicidade (literalmente, em todo o lado). Se não forem fãs de cerveja, têm sempre o tinto de verano (vinho tinto com gasosa).
Nas praças mais turísticas da cidade, e principalmente à noite, costumam acontecer shows de flamenco. Contudo, se preferirem e tiverem na disposição de despender uns euros extra, existem inúmeras casas onde é possível assistir a um bom espetáculo.
De acordo com o que nos contaram, uma altura ideal para visitar Sevilha é durante a Feria de Abril (Feria de Sevilha). É um evento que todos os anos atrai milhares de turistas, as ruas ficam completamente decoradas e enchem-se de pessoas com os tradicionais trajes sevilhanos, espetáculos de flamenco e muita alegria.
SE ESTÃO A PENSAR VIAJAR ATÉ SEVILHA, LEIAM ESTAS DICAS
As duas free walking tours que fizemos foram da empresa Heart of Sevilla Free Tours. Optamos pela comunicação em inglês, mas havia também a opção de as fazer em espanhol. Foram uma forma divertida de ficar a conhecer a cidade e o seu património histórico, de visitar sítios que sozinhos poderíamos não ter descoberto e de travar conhecimento com viajantes como nós e com guias muito simpáticos.
Há muito bares de tapas no centro histórico. Informem-se junto dos funcionários dos alojamentos onde ficarem quais os menos turísticos e, portanto, mais baratos e mais fidedignos à culinária sevilhana.
Ficamos alojados no Bed & Breakfast Triana, localizado numa zona residencial muito agradável de Triana, a 15 minutos a pé do centro histórico. Fomos recebidos lindamente e sentimo-nos em casa.
Em Sevilha deixamos o carro estacionado em Triana e andamos sempre a pé. Rapidamente chegamos a pé de um ponto a outro da cidade pelo que é esse o nosso conselho. Contudo, para os mais preguiçosos ou para quem tem pouco tempo para explorar a cidade, existem autocarros de sightseeing Hop-On Hop-Off com preços aproximados de 21€ por 24 horas ou 29€ por 48 horas.
Aproveitem para ir a Italica, que fica na cidade de Santiponce, a apenas 9 km de Sevilha. Italica, que significa pequena Itália, foi uma cidade romana de grande importância. Foi também recentemente o palco do encontro (Dragon Pit) entre Daenerys, Jon Snow, Tyrion, Cersei e basicamente toda a gente que sobreviveu às sete temporadas de Game of Thrones.
Quem estiver interessado numa dose extra de adrenalina pode sempre ir à Isla Mágica, parque de diversões criado nas instalações da Expo 92.
Nos três dias em que estivemos na cidade conseguimos visitar tudo o que queríamos sem correrias. Não visitamos, por opção, o interior de alguns edifícios como o Arquivo das Índias ou a Torre del Oro, nem fomos à Isla Mágica. Tendo isto em conta, três dias para visitar a cidade é uma duração adequada.
Preços & informações gerais (atualizados a 15/03/2018):
- Metropol Parasol: o piso subterrâneo alberga o Antiquarium, onde se podem visitar vestígios romanos e árabes. No piso 1 encontra-se um mercado e os pisos 3 e 4 têm terraços panorâmicos. A subida ao miradouro faz-se por um elevador situado no piso subterrâneo, junto à entrada do Antiquarium (o acesso custa 3€).
- Real Alcázar de Sevilha: aproveitem para ir durante as horas mais quentes do dia porque lá dentro é muito fresco. O custo da entrada geral são 11,50€ (3€ para estudantes) e aconselhamos a comprarem o bilhete previamente na internet para evitarem a fila interminável.
- Catedral e Torre Giralda: a entrada sem visita guiada custa 9€ (3€ para estudantes). Também se criam filas intermináveis para a compra dos bilhetes pelo que aconselhamos também a comprar o bilhete previamente ou então comprar o bilhete combinado na igreja vizinha – El Divino Salvador.
- Italica: aberta de Terça a Domingo. É gratuita a entrada para cidadãos da UE e custa 1,5€ para os restantes cidadãos.
Um dia vemo-nos por aí!
R&P