Madrugar (a sério). Começar a subir a montanha do Pico às 2 horas da manhã. Caminhar durante mais de 3 horas. Subir o Piquinho com os pés e as mãos agarrados à rocha. Tudo isto para alcançar o ponto mais alto de Portugal ao nascer do sol. E depois descer…
Será que valeu mesmo a pena? A resposta, neste artigo.
Fast facts sobre a Montanha do Pico:
- Com 2351 metros de altitude, a Montanha do Pico é a montanha mais alta de Portugal.
- O seu trilho consiste na subida até ao Piquinho, iniciando-se e terminando na Casa da Montanha (a 1200 metros de altitude). O trilho tem cerca de 3,8 km mas… amigos, um desnível de 1150m!
- No cimo da montanha localiza-se a cratera do vulcão. Nessa cratera, existe outra elevação com cerca de 70 metros de altura, o Piquinho, Pico Pequeno ou Topo da Montanha (ponto mais alto de Portugal).
- Na cratera e no Piquinho existem várias fumarolas vulcânicas de enxofre.
- Do topo do Pico podem-se avistar as ilhas de São Jorge, Faial, Graciosa e Terceira.
Nós e o Pico – um romance atribulado
Vamos recuar um pouco no tempo e contar-te a nossa história com a montanha (e a ilha do Pico). História esta que começou 4 anos antes de realmente visitarmos a ilha.
Tudo se iniciou em 2017, quando, em preparação para uma viagem de 12 dias nos Açores, definimos que iríamos visitar 4 ilhas (dizemos-te já que é pouco tempo para uma visita a 4 ilhas!). Estava decidido que São Miguel estaria no roteiro. As restantes três seriam do grupo central, para facilitar a deslocação entre ilhas. O Pedro queria muito visitar o Pico, com o principal intuito de subir a montanha. A Raquel temeu pela sua vida (sim, sou assim exagerada) e disse logo que não queria subir a montanha (sabem, os comentários de algumas pessoas são tramados e eu, Raquel, ouvi os errados e fui influenciada a não subir a montanha com medo de me magoar). “Não subimos a montanha, então nem visitamos a ilha” disse o Pedro. Portanto, acabamos por visitar São Miguel, Faial, São Jorge e Terceira.
Todo este enredo e o facto do Pedro ter ficado algo amuado por não ter ido ao Pico começou a ser uma inside joke entre alguns dos nossos amigos. Sempre que fazíamos algum trilho de montanha ou víamos o nascer do sol em algum local, diziam-nos “Ah isso é bonito mas não é o Pico”, em tom de desafio.
Os anos passaram e o Pedro foi fazendo com que a Raquel se apaixonasse por trilhos tanto quanto ele. O discurso mudou de “Não quero subir ao Pico” para “Um dia vou mesmo subir ao Pico, carago!”. As mulheres do Norte são tramadas quando metem uma ideia na cabeça.
Em 2021, surgiu então a oportunidade de voltarmos aos Açores e de, finalmente, subirmos ao ponto mais alto de Portugal. Aqui surge um novo “conflito” entre nós. O Pedro quer subir a montanha de noite (de forma a ver o nascer do sol do Piquinho). A Raquel quer subir durante o dia, motivada pelo seu receio do trilho poder ser mais arriscado durante a noite.
A Raquel, mais uma vez, venceu na decisão e decidimos subir o Pico de dia.
E agora passando à viagem propriamente dita.
Mudança de planos
Pouco tempo após chegarmos ao Pico, com tudo combinado para subir a montanha no dia seguinte de manhã, fomos ao supermercado comprar algo para almoçar e os mantimentos necessários para a subida do dia seguinte. Enquanto fazíamos as compras liga-nos a Raisa, guia da Tripix, e pergunta-nos se não nos tínhamos enganado a reservar a subida diurna.
Dando mais contexto, a Raisa, ao estudar o grupo que ia subir no dia seguinte e ao ver-nos lá, sabendo que temos um blog de viagens, decide ligar-nos porque a experiência de noite é bastante mais interessante e dá um melhor conteúdo para o blog. Uma experiência de subida sob um céu estrelado, com a chegada ao cume mesmo a tempo do nascer do sol, com uma vista deslumbrante sobre o arquipélago central, é difícil de bater. Se quiséssemos aceitar esta proposta, podíamos subir naquela mesma noite, ou seja, dentro de poucas horas.
Quem atendeu esta chamada foi a Raquel. Raquel esta que antes estava muito determinada a fazer o caminho durante o dia. Ambos estávamos exaustos. Tínhamos vindo da Madeira naquele dia, tendo acordado às 3 da manhã para apanhar o voo para os Açores. No dia anterior tínhamos caminhado 20 km numa levada. Caramba, precisávamos mesmo de um dia de descanso antes de subirmos o Pico, pensávamos nós. Tínhamos que decidir rápido e após a pergunta “Pedro, queres subir o Pico hoje de noite?” e uma resposta afirmativa, a Raquel comunicou à Raisa que subiríamos a montanha do Pico naquela madrugada. “Que se lixem os meus medos”, foi o que pensei.
E assim terminou a nossa história pré-subida ao ponto mais alto de Portugal, algures entre a zona das bolachas e do Powerade.
A parte mais interessante da história vem a seguir.
A subida à montanha do Pico (Piquinho – ponto mais alto de Portugal)
A experiência de subir o Pico de noite
Meia noite, toca o despertador. Levantar. Tomar banho. Tomar o pequeno-almoço (ou seria jantar?). Preparar os mantimentos e abalar para a Casa da Montanha.
Seguimos pelas longas estradas da ilha do Pico, quase sempre sem rede de telemóvel. Um negrume iluminado apenas pelos faróis do carro. Pelo caminho vimos muitos pontos brancos: os olhos, iluminados pelos nossos faróis, das muitas vacas que estavam deitadas na berma da estrada. Volta e meia um coelho cruzava-se conosco. Meia hora depois, a Casa da Montanha.
Encontramo-nos com a nossa guia e com o grupo que nos ia acompanhar nesta aventura. Mais uma vez, o mundo a revelar-se muito pequeno. No nosso grupo estava o simpático Sérgio, do blog Os meus trilhos, que conhecemos no II Encontro de Travel Bloggers Portugueses.
Instruções de segurança dadas, lanternas na cabeça e munidos dos sticks de caminhada, lá fomos, montanha acima.
São 47 os marcos de madeira existentes ao longo do percurso. Os montanhistas foram-nos batizando, de acordo com as características do percurso. E a Raisa ia-nos explicando esta e outras curiosidades sobre a montanha durante a subida. Por exemplo, o marco 2 marca o patamar da “Seleção Natural”, isto porque é aqui que as pessoas menos preparadas começam a dar os primeiros sinais de cansaço e é aqui que os guias normalmente têm que tomar a difícil decisão de retirar alguém do grupo, pela segurança de todos. O marco 26 marca o “Vale dos Caídos”; não precisamos de explicar porquê, certo? E, para não fazer mais spoiler, ficamo-nos por aqui.
Voltando à subida propriamente dita: à noite não vemos nada a não ser o céu, incrível, de tão estrelado que estava e como nunca o tínhamos visto antes, e um mar de luzes sobre a ilha do Faial. E o caminho faz-se subindo, sempre mantendo o ritmo, com curtas paragens para nos alimentarmos e hidratarmos. (Tiramos algumas fotos ao céu estrelado mas infelizmente estas não fazem jus ao cenário a que assistimos.)
No ponto mais alto de Portugal
E eis que quando chegamos à cratera do vulcão vemos o Piquinho e as luzes frontais de quem o está a “escalar”. Caramba! Que lindo e “como carago vou eu subir (e pior, descer!) aquilo?”. “Segue sem pensar”, foi o pensamento. E, para subir o Piquinho, é altura de abandonar os sticks e de seguir, Piquinho acima, com as mãos e os pés nas rochas. E não, não foi assim tão difícil como pensávamos!
Alcançamos o Piquinho já com o céu manchado de rosa do sol que estava prestes a nascer. Que sensação! É largar a mochila num canto e respirar a beleza da montanha! Pode ser um clichê dizer isto, mas sentimos realmente um turbilhão de sentimentos. O alcançar de um objetivo, o enfrentar os nossos medos e a natureza, tão bela, à nossa frente.
Ficamos todos calados a ver o dia nascer. Acho que deu para perceber que a primeira vez que se sobe ao Pico se fica realmente “meio abananado” com tudo aquilo que se está a sentir.
Descer a montanha do Pico
Sol já nascido e pronto para iluminar o nosso caminho e toca a descer. E agora, como é que se desce o íngreme Piquinho? À caranguejo (crab walk). E, mais uma vez, parece bem mais difícil do que o que é. Com a/o guia certo, tudo parece mais fácil, vão ver!
Cratera alcançada, são mais 3 horas a descer. Pois, e aqui é que começa a custar. Depois das célebres frases “não há um teleférico para baixo?” ou “não podemos descer de parapente?” e de nos mentalizarmos que temos mesmo que ir, retomamos a descida.
A descida custou. É mais uma vez um desafio mental e físico, sobretudo pelo cansaço acumulado. Mas sabes que mais? Também vale a pena (e aqui também já não há grande alternativa a não ser descer).
Em conclusão, e em resposta à pergunta “Subir à montanha do Pico (ponto mais alto de Portugal): vale mesmo a pena?” – SIM! Nós adoramos, de verdade! Ainda bem que o Pedro me chateou a cabeça durante 4 anos para a subir e ainda bem que subimos de noite! Foi realmente uma experiência incrível e que recordamos com muita saudade!
Para mais informações visitem o site da Tripix e o site oficial da Subida à montanha da ilha do Pico.
Este artigo faz parte de um conjunto de artigos de opinião/crónicas que escrevemos em 2021:
10 experiências a realizar antes dos 30
12 hidden gems a visitar em Portugal
A (nossa) primeira viagem de 2021
“Açores ou Madeira, qual gostaram mais?”
Subir à montanha do Pico: vale mesmo a pena?
Os 13 locais que mais gostamos de visitar na Madeira
12 locais e experiências que adorámos na capital espanhola
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Um dia vemo-nos por aí!
R&P
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Valeu mesmo a pena. Subi em junho de 2022.
Com 67 anos de idade, foi uma experiência fenomenal.
Deve ter sido incrível! Boas viagens.