Há anos que dizíamos “um dia vamos percorrer os caminhos de Santiago”. Adorámos caminhar, principalmente na natureza, e tínhamos a expectativa de que percorrer este caminho ia ser uma experiência memorável.
Portanto, em junho de 2019, fomos! Saídos da Sé do Porto, chegamos a Santiago em 10 dias, numa viagem que se revelou uma caixa de boas surpresas. Conversámos com peregrinos dos quatro cantos do mundo, percorremos refrescantes zonas florestais e pernoitamos em locais acolhedores. No entanto, não há dúvida que a grande viagem foi a interior!
A jornada é única e irrepetível e é impossível antever o que cada um vai sentir ao fazer o Caminho. Resta-nos por isso tentar entusiasmar-te com as nossas palavras.
Neste e nos próximos artigos, pretendemos contar-te a nossa jornada, de uma forma leve e pessoal: os sítios por onde passamos; onde pernoitamos e algumas experiências que marcaram o nosso caminho.
Se quiseres saber mais sobre os Caminhos de Santiago, passa por aqui (onde explicamos que Caminhos existem e por onde passam) e por aqui (onde compilámos as perguntas que mais nos fizeram e as nossas respostas).
E agora, sem mais demoras, o primeiro dia da nossa Jornada pelo Caminho Português de Santiago.
Do Porto a Santiago de Compostela pelo Caminho Central Português – a nossa jornada
1ª Etapa do Caminho Português de Santiago:
Porto → Vilarinho (27 km)
Porto: a partida
E eis que chegou o tão esperado dia.
Escolhemos como local de partida a Sé do Porto. Um local de que gostámos e ponto de referência no Caminho de Santiago. Por lá encontramos dezenas de peregrinos, fizemos o primeiro carimbo na nossa Credencial e seguimos pelos bairros tradicionais da Sé até à rua das Flores.
Na rua das Flores perdemos as setas… Sim, desorientamo-nos cedo (shame on us!). E foi aqui que decidimos que seria melhor nos guiarmos pelo nosso livro de bolso até sair da cidade do Porto. Optamos por seguir uma variante do caminho e ignorar as setas amarelas no centro da cidade. Então, da baixa fomos até ao jardim de Arca d’Água e daqui seguimos para o cruzamento do Amial, sempre sem setas à vista. Neste cruzamento, mal entramos no concelho de Matosinhos, as setas re-apareceram e já nos pudemos guiar por elas.
Matosinhos
Atravessamos São Mamede Infesta; paramos para almoçar (ao estilo piquenique) no Parque das Varas; conhecemos o imponente Mosteiro de Leça do Balio e ficamos espantados com a qualidade dos grafittis junto ao Centro Empresarial da Lionesa.
Maia
Seguimos em direção à cidade da Maia, onde o caminho é maioritariamente urbano (e onde é preciso ter cuidado com os carros). Quando passamos pela Igreja da Nossa Senhora do Bom Despacho, conhecida pelos seus azulejos azuis, encontramos um homem, que aparentava não ser português, a acenar-nos entusiasticamente (o que ao início, confessamos, nos causou alguma estranheza).
Tratava-se de um peregrino vindo das nossas antípodas, da Nova Zelândia! Que mal nos viu e reconheceu como peregrinos, quis logo conversar connosco, acabando por nos acompanhar durante grande parte do percurso, neste primeiro dia.
Este não era o seu primeiro Caminho de Santiago. O primeiro tinha tido como ponto de partida a Holanda, tendo ele caminhado cerca de 2000 km para chegar a Santiago de Compostela! E foram várias as histórias que fomos trocando.
Esta é uma das características do caminho, dois portugueses na casa dos vinte (e muitos) anos a falarem com um neozelandês com os seus sessenta, na Maia! Qual a probabilidade disto acontecer sem ser no Caminho de Santiago?
Vila do Conde
Quando chegamos ao concelho Vila do Conde, o último dos quatro concelhos atravessados neste dia, deparamo-nos com um caminho maioritariamente rural e bastante agradável. Por existirem alguns troços perigosos para os peões, foram colocados painéis do Caminho de Santiago que sugerem caminhos alternativos, mais seguros, que se encontram igualmente marcados pelas setas amarelas e pelos quais nós optamos quase sempre.
Caso queiras pernoitar no Albergue de Peregrinos, esta etapa para ti terminará em Vairão, no albergue do Mosteiro. Contudo, nós optamos por seguir até Vilarinho, ficando alojados na “Casa da Laura”, onde fomos muito bem recebidos.
Vilarinho: a chegada
Mal chegamos à casa da Laura fomos recebidos com uma boa dose de gargalhadas. A Laura disse que tinha estado o dia todo à nossa espera! (What?! Desta não estávamos nós à espera.) E porquê? Porque estava convencida que quem estaria a chegar era um primo seu, que tem o nome igual ao que o Pedro usou na reserva, para lhe pregar uma partida. Pedimos desculpa pela desilusão Laura, éramos mesmo nós e não o homónimo primo.
A Laura contou-nos um pouco da sua vida e algumas histórias engraçadas de quem por lá passa. Ficamos a saber, por exemplo, que pela sua sensibilidade, as pessoas de uma determinada nacionalidade tendem a perder-se no Caminho mais do que as restantes. Sabem qual? A portuguesa, pois claro! Sentimo-nos em casa e por isso temos mais vergonha em pedir ajuda e volta e meia estamos meio perdidos (ups, aconteceu-nos logo na partida).
Para além da excelente conversa, a Laura fez para todos os peregrinos que lá pernoitaram uns docinhos de côco e ofereceu vinho do Porto, o que serviu de mote a uma longa e divertida conversa com um francês e um jovem casal de alemães que lá estavam e que nos acompanharam no percurso no dia seguinte. Da conversa também descobrimos que os estrangeiros, regra geral, não se perdem porque vêm munidos de aplicações para o telemóvel sobre o Caminho (se quiseres saber esta e outras dicas vê este artigo).
Em resumo
O primeiro dia da caminhada, em termos paisagístico, não foi muito interessante porque percorremos ainda bastante estrada e áreas urbanas. No entanto, podes acreditar que foi rico em gargalhadas e histórias partilhadas.
Se gostaste deste artigo, não percas o próximo, sobre o dia 2 desta jornada e comenta na caixa de comentários.
Um dia vemo-nos por aí!
R&P
Olá o meu nome é Paulo Cunha tenho 46 anos e no próximo dia 11 de Abril de 2021 irei fazer o caminho de Santiago com o meu Sobrinho Roberto Gaspar de 28 anos gostaria de ter a vossa ajuda se possível e dicas para tornar esta aventura memorável Abraço e cumprimentos
Paulo Cunha
Olá Paulo,
Temos várias dicas sobre o Caminho de Santiago nos vários artigos que temos sobre o tema, no blog. Caso não encontre resposta às suas questões nos nossos artigos, pode colocar-nos as suas dúvidas que, se conseguirmos, responderemos.
Buen camino 🙂
Bom dia.
Passei aqui por acaso e li o pedido acima, deixando-me levar para a única dica possível: aproveitem!
Já fiz vários Caminhos para Santiago – parece-me ser a designação mais correcta – e se me atrevo a dar qualquer dica será “apenas” a de não ficarem à espera que o Caminho vos surpreenda – deixem-se surpreender: a mudança vem de dentro!
Bon Camino!
Muito obrigado pela dica, é isso mesmo 🙂
Buen camino!
Amigos
Excelente matéria, parabéns!
Fiquei com uma duvida com relação a distancia entre Porto e Vilarinho, na vossa matéria é informado 27 Km, porém no Google Maps é informado 42 Km. Poderiam esclarecer?
Obrigado
Olá, muito obrigado pelo seu comentário.
De facto, quando se escreve “Vilarinho” no Google Maps, ele leva-o para um local que não é o que indicamos neste artigo. A terra “Vilarinho” por onde passamos pertence a Macieira da Maia, Vila do Conde. Se escrever Vilarinho, Vila do Conde no Maps, vai ter ao sítio correto.
Esperamos ter conseguido esclarecer 🙂
Bom caminho!
Olá! Obrigada por compartilhar sua história. Pretendo fazer o caminho e estou pesquisando, existem outras paradas possíveis entre o Porto e Vilarinho?
Olá, de nada. Existem sim, existe por exemplo um albergue de peregrinos em Vairão, que é um pouco antes de Vilarinho.
Bom caminho 😀
SANTIAGO DE VILARINHO
Este é o Caminho para Libredón, onde surgiu o Campo da Estrela e se ergueu Compostela.
Muito interessante a história 🙂
Boa Tarde,
Parabéns pelo relato, adorei a narrativa. Tenho uma pergunta: Vocês fizeram o Caminho de Botas ou Tênis? vou fazer o Caminho e estou com dúvida do que usar. O que vocês recomendam?
Olá Pedro,
Muito obrigado pelo teu comentário. É muito bom saber que gostaste do nosso artigo.
Nós fizemos o Caminho com sapatilhas de caminhada de montanha (ambos da marca Columbia, que compramos na Decatlhon) e não temos mesmo queixa das sapatilhas. Eu, Raquel, fiz algumas bolhas (faço facilmente) mas rapidamente resolvi a situação com os pensos de hidrocolóide da Compeed (que também te aconselhamos).
Entre botas e sapatilhas a escolha é muito pessoal. Entretanto, eu, Raquel, comprei botas de montanha e agora uso-as mais que sapatilhas para trilhos porque sinto que dão mais estabilidade ao tornozelo mas também são ligeiramente mais quentes e pesadas. Por isso é mesmo uma escolha pessoal e dependente do tipo de caminho que vais fazer.
Se comprares na Decatlhon online, temos um link que podes usar (nós temos uma pequena percentagem de lucro com o link) 🙂
Bom Caminho!
Que incrível! Fiz o meu primeiro dia hoje até Gião. Peguei muita chuva, mas cheguei bem!
Buen Camino (já atrasado mas sincero 😀 )